8. Amor (Hilda Hilst)
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas.
E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena.
E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
Como falar de amor é sempre bom, incluímos na nossa lista a escritora brasileira Hilda Hilst com destaque para seu lindo poema chamado simplesmente de Amor. Nele, a autora explora o lado obscuro que nos é causado quando amamos. Seus versos são como um clamor por um amor que não a cegue, como ela revela nas primeiras linhas do poema.
9. O Tempo (Mário Quintana)
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
O multifacetado poeta, escritor, tradutor e jornalista Mário Quintana era conhecido por seus versos simples e cheios de metáforas. Em um de seus poemas mais famosos, O Tempo, ele brinca com a ideia do número seis e seus significados. Originalmente, o poema se chamaria Seiscentos e Sessenta e Seis.
10. Incenso fosse música (Paulo Leminski)
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Um dos poetas mais celebrados da história recente da literatura brasileira, Paulo Leminski continua encantando uma nova geração de leitores e amantes de poesia. Seus versos recheados de trocadilhos e brincadeiras foram inspirados, especialmente, pela cultura japonesa e os curtos poemas chamados haikai. Incenso fosse música é talvez os versos mais conhecidos do poeta marginal que escreveu outros centenas de poemas curtos que se tornaram clássicos.
11. Casamento (Adélia Prado)
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
O delicado poema Casamento contém alguns dos versos mais celebrados da grande poetisa brasileira Adélia Prado. Ele foi publicado pela primeira vez no livro Terra de Santa Cruz em 1981 que ganhou projeção internacional. A maneira com que a autora relata cenas do cotidiano de maneira lúdica em seus versos é uma das características de seu estilo mais conhecidas.
12. Aninha e Suas Pedras (Cora Coralina)
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
“Remove pedras e planta roseiras e faz doces.”. Este poderoso e delicado verso encontrado em Aninha e Suas Pedras revela uma grande parte da história da poetisa brasileira Cora Coralina. Seu nome de batismo era Ana Lins dos Guimarães Peixoto. Ela era doceira e tinha como hobby a escrita desde a adolescência. Seus trabalhos começaram a ser publicados quando a goiana tina 76 anos de idade e ganharam projeção mundial. Cora Coralina é uma daquelas autoras que podem ser lidas com crianças e introduzi-las ao maravilhoso mundo da poesia brasileira.
13. Catar Feijão (João Cabral de Melo Neto)
1.
Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.2.
Ora, nesse catar feijão entra um risco,
o de que, entre os grãos pesados, entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco.
Sem sombra de dúvidas, Morte e Vida Severina é a obra mais conhecida e celebrada do escritor pernambucano João Cabral de Melo Neto. Quando lançado, foi uma revolução no movimento conhecido como regionalismo. Um outro poema de destaque do autor é Catar Feijão, que carrega alguns dos elementos mais conhecidos de sua forte escrita.
14. Os Sapos (Manuel Bandeira)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, éQue soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
Vou-me Embora pra Pasárgada e Os Sapos são talvez os mais celebrados poemas de Manuel Bandeira, um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Declamado pelo também poeta e político brasileiro Ronald de Carvalho durante a Semana de Arte Moderna de 1922, o poema é um grande marco de uma revolução artística que aconteceu no Brasil no começo do século XX.
15. O Navio Negreiro (Castro Alves)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
O trecho acima faz parte do poema O Navio Negreiro do poeta baiano Castro Alves. Este importante texto faz parte do épico poema Os Escravos, lançado pela primeira vez em 1883. Alves foi um grande nome do movimento abolicionista no Brasil e usou seus versos para denunciar as atrocidades cometidas pela escravidão no país. O poema não fala de amor ou de coisas belas, mas é um belo marco na literatura brasileira e deve ser lido por gerações a vir, para nunca esquecermos a história do povo brasileiro.
E então, concorda com nossa lista? Compartilhe com a gente os poemas que VOCÊ considera os mais belos da literatura brasileira!
Fonte: https://www.pensador.com/poemas_mais_lindos_da_literatura_brasileira/?utm_source=facebook&utm_medium=referral&fbclid=IwAR1XuhApPuluSvoz-wHpVfsHMdIZTUF-INxYOszYZtHODUAS0azAopK0Xq8
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