Adélia Prado, Alice Ruiz, Ana Cristina Cesar, Carolina Maria de Jesus e Marina Colasanti são cinco escritoras brasileiras para ler antes de morrer.
A Literatura Brasileira é prodigiosa quando o assunto é talento. Apesar de ser um espaço predominantemente masculino, pelo menos aparentemente, muitas são as mulheres que produziram e ainda produzem literatura de alta qualidade. Para fazer justiça às mulheres que se dedicam às letras brasileiras e que nem sempre recebem a atenção que merecem, o sítio de Português apresenta para você cinco escritoras brasileiras para ler antes de morrer.
Nomes como Cecília Meireles, Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles são velhos conhecidos dos leitores, que já puderam atestar a genialidade dessas três incríveis mulheres da literatura. Contudo, existem muitos outros nomes que merecem destaque: aqui listaremos apenas cinco, mas não tenha dúvidas de que a lista poderia ser bem maior. Boa leitura!
Cinco mulheres, cinco histórias de entrega e amor pela literatura brasileira.
Adélia Prado
Adélia Prado é poetisa, professora, filósofa e contista. Nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 13 de dezembro de 1935. Por intermédio de Carlos Drummond de Andrade, teve seu primeiro livro, Bagagem, publicado em 1976. Temas como o cotidiano e a mulher como ser pensante são recorrentes em sua obra. Atualmente vive na cidade onde nasceu, Divinópolis.
Pranto Para Comover Jonathan
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
Adélia Prado
Alice Ruiz
Alice Ruiz nasceu em Curitiba, Paraná, em 22 de janeiro de 1946. Poeta e haicaísta, lançou seu primeiro livro aos 34 anos. Foi casada com outro escritor, o também curitibano Paulo Leminski, com quem teve três filhos. Alice é grande estudiosa do haikai, pequena poesia com métrica e molde orientais. Já publicou 21 livros e também é muito conhecida por suas composições para grandes intérpretes da MPB.
Diz que é você
O dia inteiro diz
E até a noite diz
Que é você meu
Bom senso, mal-juízo
Meu desejo e o que vejo
Dizem que é você
Meu outro lado esbraveja
Veja, tenho certeza
Que é você
O sol nasce e se levanta
Se deita e de todo jeito diz
Que é você
A lua míngua, a lua cresce
E mesmo nova
Já está cheia de dizer
Que é você
O dia inteiro diz
E até a noite diz
Que é você
Meu bom senso, mal-juízo
Meu desejo e o que vejo
Dizem que é você
Meu outro lado esbraveja
Veja, tenho certeza
Que é você
O sol nasce e se levanta
Se deita e de todo jeito diz
Que é você
Tudo o que digo e faço
É só pra disfarçar
E eu só penso e me convenço
Que é você
Só você insiste em dizer
Que não é você.
Alice Ruiz
Ana Cristina Cesar
Ana Cristina Cesar nasceu no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952. Foi considerada um dos principais nomes da Poesia Marginal, movimento literário dos anos 1970. Em sua poesia confessional, encontramos a atração pelo improvável no cotidiano, o existencialismo, a valorização do coloquialismo e do tempo presente. Cometeu suicídio no dia 29 de outubro de 1983 ao atirar-se da janela do prédio onde morava em Copacabana, aos 31 anos.
Soneto
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
Ana Cristina Cesar
Carolina Maria de Jesus
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Negra e de família pobre, sua principal obra, Quarto de despejo, foi traduzida para 13 idiomas. Nela, Carolina narra sua experiência como mulher pobre e negra vivendo nos anos 1950 em São Paulo. É um depoimento único e comovente sobre a dinâmica social urbana sob o ponto de vista dos marginalizados. Faleceu em São Paulo, vítima de insuficiência respiratória, no dia 13 de fevereiro de 1977.
“(...) Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.(...)”
Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960.
Marina Colasanti
Marina Colasanti nasceu no norte da África, na então colônia italiana da Eritreia, no dia 26 de setembro de 1937. Passou grande parte da infância na Itália, vindo para o Brasil na adolescência. Em sua obra reflete sobre a condição feminina, o amor e os problemas sociais a partir de fatos do cotidiano. Atualmente vive no Rio de Janeiro e é casada com o também escritor Affonso Romano de Sant'Anna.
Rota de colisão
De quem é esta pele
que cobre a minha mão
como uma luva?
Que vento é este
que sopra sem soprar
encrespando a sensível superfície?
Por fora a alheia casca
dentro a polpa
e a distância entre as duas
que me atropela.
Pensei entrar na velhice
por inteiro
como um barco
ou um cavalo.
Mas me surpreendo
jovem velha e madura
ao mesmo tempo.
E ainda aprendo a viver
enquanto avanço
na rota em cujo fim
a vida
colide com a morte.
Marina Colasanti
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